sábado, 19 de novembro de 2011

Minha Vida II

       Esse tal de Alessandro conseguira o que queria. Chamar minha atenção. Continuei fitando seu rosto magricela e ele sorria triunfante. Esperei que ele continuasse com o insulto de a minha vida ser chata, mas ele apenas se dirigiu ao balcão e pediu cappuccino. Concluí que ele era um débil mental e voltei minha atenção ao computador, quando o vi sentando-se na cadeira a minha frente.
       - Meu voo só sai às 17:00, então a gente pode tentar se conhecer nesse tempo.
       - E quem disse que quero te conhecer? - indaguei friamente. Já estava começando a me irritar.
       - Porque se não quisesse, já teria me dispensado ou ter chamado algum segurança.
       - Sei me virar - retruquei - não preciso de ninguém.
       - Ah, claro! - ironizou - você é a melhor.
       Franzi a testa. O que ele queria dizer? 
       - Onde você nasceu? - perguntou.
       - Não irei responder.
       - Ora, vamos - incentivou-me - Se você responder as minhas perguntas, deixarei você em paz.
       Mordi os lábios. Ele podia ser um estranho louco, imbecil, arrogante e todos os outros adjetivos negativos que puder listar, mas sentia falta de conversar com alguém "novo".
       - São Paulo.
       - Viu? Não doeu.
       Não consegui deixar de sorrir. Tentei esconder o sorriso, mas ele deve ter visto, pois quando ele continuou, estava mais empolgado.
       - De onde está vindo?
       Hesitei.
       - Los Angeles.
       - Mentira. 
       Olhei diretamente para ele. Estava sério.
       - Los Angeles - repeti pensando que ele poderia não ter ouvido direito - negócios.
       - Por que você está insistindo na mentira?
       - Eu não estou mentindo - reclamei - Por que você está falando isso?
       - Por que já te vi aqui antes - respondeu calmamente.
       Arregalei os olhos. Então, era assim que eu ia morrer? Por um louco no aeroporto?
       - Como...como? - gaguejei.
       Ele riu. 
       - Isso não vem ao caso. Você está vindo do lugar que você pode ser você mesma.
       -Então - retruquei - Los Angeles! Onde sou a representadora internacional de uma das empresas mais famosas do mundo! Faço o que eu gosto.
       Ele me fitou. Olhava com tal intensidade que eu não conseguia desviar meus olhos dos dele. 
       - E o que você gosta de fazer? - perguntou calmamente.
       Respondi quase de imediato.
       - Eu gosto de andar de bicicleta, tomar sorvete, desenhar, correr pelos campos, apreciar a natureza, de não pensar no meu trabalho sem deixar de me culpar todos os dias por fazer aquilo que não me traz felicidade...
       Parei. Por que eu estava falando aquelas verdades para aquele estranho? Ele sorria. Um sorriso de criança pra mim.
       - Estamos indo bem - comentou.


CONTINUA! (próximo sábado, final!)

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